Moralismo e Intolerância Religiosos

Ateus são freqüentemente acusados de arrogância e preconceito contra religiosos. Frases como “Cada um na sua”, “Qual é o problema de acreditar em Deus??”, “Religião é pessoal” são sempre usadas para defender a religião. Neste texto explico a causa da minha oposição a religiões, e como em alguns casos, a simples existência de pessoas religiosas é prejudicial à construção de uma sociedade justa e igualitária.

A pura e simples crença em deuses ou na imortalidade, é uma questão pessoal que a princípio não afeta a vida de outras pessoas. Na maioria dos casos, porém, essa crença acompanha outras mais complexas que podem envolver questões éticas, e gerar conflitos entre pessoas que não compartilham as mesmas crenças.

“I say quite deliberately that the Christian religion, as organized in its churches, has been and still is the principal enemy of moral progress in the world.” (“Eu digo deliberadamente que a religião Cristã, como organizada em suas igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso moral no mundo.”)
– Bertrand Russell, Why I Am Not a Christian and Other Essays on Religion and Related Subjects

No Brasil milhões de pessoas estão sujeitas a um único conjunto de leis. O Brasil se diz um estado laico, com liberdade religiosa, mas muitas dessas leis são influenciadas pelo cristianismo, ou seja, todas as outras religiões são obrigadas a seguir a ética cristã. Essa é a “liberdade religiosa” do “estado laico” brasileiro.

Se o aborto é errado na visão dos cristãos, não abortem. Se suicídio e eutanásia são errados na visão dos cristãos, não se matem. Se métodos contraceptivos são errados na concepção cristã, não os utilizem. Se uma certa prática sexual, homossexualidade, jogo, drogas, prostituição, ou qualquer outro comportamento é errado na visão cristã, que eles não pratiquem. Os cristãos têm a liberdade de seguir sua ética e tradições (garantida pelo estado), que Deus puna os que optarem por fazer qualquer uma dessas coisas. Não-cristãos não desfrutam dessa mesma liberdade.

As leis do estado deveriam proteger vítimas de criminosos, e defender os direitos humanos, não dizer o que uma pessoa deve ou não fazer com a própria vida se isso não causa o mal a ninguém. Essa atitude do estado é moralista e segue valores freqüentemente religiosos, com os quais nem todos são obrigados a concordar.

Os valores morais com base na tradição e dogmas religiosos são um problema universal. Nos EUA, sete médicos que faziam abortos legalmente já foram assassinados por grupos religiosos pró-vida radicais, além de vandalismo, bombardeio e incêncio de clínicas de aborto. Pessoas incapacitadas não têm o direito de terminar a próprioa vida. O progresso científico é atrasado por polêmicas que só existem por questões religiosas como no caso da pesquisa com células-tronco. Homossexuais não podem se unir legalmente, e em alguns locais são punidos até com execução. Sexo entre solteiros no Irã é punido com 100 chicotadas, e adultério com apedrejamento.

Quanto maior a quantidade de pessoas religiosas e intolerantes no mundo, mais influência tem o moralismo religioso, maior a influência da religião no estado, e mais injusto o mundo para os que não praticam essa religião. Um mundo com valores morais seculares e leis baseadas na liberdade e igualdade, em que cada cidadão tem o direito de fazer o que quiser de sua vida, desde que não impeça outros de exercer os mesmos direitos, seria justo tanto para religiosos quanto não religiosos.

Os religiosos poderiam continuar levando suas vidas com suas práticas religiosas sem serem incomodados com isso, e os não praticantes não seriam punidos pelos seus atos supostamente “imorais” ainda que sem vítimas. Além disso, outros fatores como a visão religiosa da vida, também podem levar a valores morais distorcidos, baseados em dogmas e superstições, sem nenhum fundamento científico, e qualquer lei baseada nesses valores estaria privilegiando um sistema de crenças em detrimento de outro, o que é injusto e contradiz os princípios de um estado laico.

Esse problema poderia ser resolvido com a diminuição desse pensamento egoísta e ditatorial por parte de muitos religiosos, que não satisfeitos em simplesmente viver de acordo com as suas tradições, querem impor seu estilo de vida a toda a sociedade. Porém, essa visão tirana é parte intrínseca de muitas religiões, principalmente as Abraãmicas (Judaísmo, Cristianismo, e Islamismo), assim como a convicção cega dos fiéis de que suas crenças pessoais infundadas são as corretas (todas as religiões). Sendo assim, a única forma desse problema ser solucionado é se os religiosos se dispuserem a reavaliar suas atitudes intolerantes e moralistas, ou se a religião deixar de existir.

Muitos dos que criticam a religião costumam falar sobre dízimo, igrejas evangélicas, e como a religião em alguns casos pode ser prejudicial para o prório praticante. Eu nem entro nessa questão, acho que cada um tem o direito de fazer o que quiser com a sua vida. Não tenho nada contra as crenças das pessoas em si, mas sim as inúmeras conseqüências negativas que elas costumam trazer para todos os que não possuem crenças iguais.

Marcações:

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *