Ariel Pontes

Secular-humanista, desenvolvedor web, blogger ocasional. Interessado por filosofia, ciência, tecnologia, internet, culture livre, mudança social, etc.

Cotas

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Fonte: http://levantepopulardajuventude.blogspot.ro/2012/08/exercito-anto-cotas-tropa-da-elite.html

Novamente o assunto das cotas está em pauta. Dessa vez o debate não envolve negros, mas mulheres. Como era de se esperar, a maioria é radicalmente contra propostas do gênero e ao conceito de ação afirmativa no geral. A argumentação anti-cotas é tipicamente a mesma: a de que esse tipo de abordagem é “anti-democrática”, “injusta”, “discriminativa”, “desigual” etc. Embora eu concorde que essa não seja uma solução ideal, esse argumento não se sustenta. Pode até ser que existam motivos legítimos para sermos céticos com relação a cotas e ação afirmativa no geral, mas os mais usados certamente não fazem parte deles e eu vou tentar explicar por quê.Continue a ler »Cotas

Conferência Humanista do Leste Europeu

Fonte:  FotoStudio42

Fonte: FotoStudio42

Ano passado vim morar na Romênia e uma das formas de tentar me socializar e me integrar por aqui foi procurando me envolver com a comunidade secular-humanista local. Em Abril entrei como membro na ASUR (“Asociația Secular-Umanista din România”, acho que dispensa tradução) e uma das atividades em que participei foi a Humanist Eastern European Conference (Conferência Humanista do Leste Europeu). A conferência era focada no Leste Europeu, mas na prática era aberta e aceitava aplicações de qualquer indivíduo e reuniu membros de instituições humanistas de toda a Europa e até do Cáucaso, como o Azerbaijão. O evento foi muito interessante e me senti responsável por compartilhar minha experiência com a comunidade humanista Brasileira, de forma que tento contribuir aqui com meu resumo e impressões sobre a conferência.Continue a ler »Conferência Humanista do Leste Europeu

Discurso de ódio no dia-a-dia romeno

teodor-quote-ptNa Romênia as pessoas falam mal do sotaque das pessoas de outras regiões sem o menor pudor. E não falam mal zuando, falam sério mesmo. Chamam de “caipira”, dizem que destroem a língua romena e ninguém nem olha torto. É socialmente aceitável. Também falam mal de ciganos abertamente. Alguns dizem até que são “uma raça estragada”, geneticamente danificada, embora esses sejam mais extremos do que a maioria. Mas mesmo os “moderados” acham normal quando ouvem. Estão acostumados, e mesmo que discordem da escolha de palavras eles não iriam defender cigano, porque afinal tudo que eles sabem fazer é roubar, pedir esmola e destruir a imagem dos romenos na Europa ocidental. São um povo parasita sem cultura e não adianta nada tentar integrá-los porque eles mesmos não se esforçam.Continue a ler »Discurso de ódio no dia-a-dia romeno

Bolsonaro Presidente?

Dia 5 de outubro se realizaram no Brasil as eleições para presidente, governador, senador e deputado. O país elegeu o congresso mais conservador desde 1964. Isso é triste por si só, mas o mais triste é saber que pessoas que eu respeito e admiro, que me criaram e me ensinaram a ser uma boa pessoa, tenham colaborado para esse resultado. Como as coisas chegaram a esse ponto? Como o Bolsonaro pode ser eleito com o maior número de votos, com a ajuda de pessoas genuinamente bem intencionadas como meus próprios avós? Decidi escrever esse texto como uma espécie de carta aberta a todos eleitores de Bolsonaro que ainda tenham algum resquício de bom senso e racionalidade em suas cabeças.Continue a ler »Bolsonaro Presidente?

Qualquer sistema de valores é igualmente válido?

Qualquer sistema de valores é igualmente válido?

Quando grande parte da população americana se revoltou com a proposta de construção de um mosque e centro comunitário islâmico em Nova Iorque, a dois quarteirões de onde ficavam as torres do World Trade Center, esse foi um dos comentários do então prefeito Michael Bloomberg:

É minha esperança que o mosque ajude a trazer os habitantes de nossa cidade ainda mais próximos e repudiar a falsa e repugnante ideia de que os ataques do 11 de setembro foram de alguma forma consistentes com o Islã.

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Funk é cultura? Os perigos do radicalismo relativista

Esse já é o segundo texto que escrevo cujo título segue essa estrutura. E acho possível que não seja o último. A razão disso é uma tendência relativamente comum que observo no ser humano de adotar uma perspectiva binária ao analisar certos problemas. No caso, o problema em questão envolve o relativismo e o elitismo. Como todo assunto polêmico, é sempre possível que alguém se sinta ofendido. Mas se a única forma de não ofender é não criticar, então sou forçado a me arriscar e fazer a crítica da forma mais construtiva possível.Continue a ler »Funk é cultura? Os perigos do radicalismo relativista

Se você não acredita em nada, por que não rouba ou se mata logo?

niilismo evolucionistaQuando se adota uma visão de mundo cética e racionalista (como a descrita em mais detalhe no texto “Seria o racionalismo um sistema de crenças?“), uma reação comum é a de nos perguntarem por que não roubar, matar, ou simplesmente nos suicidarmos já que a vida não faz sentido. Neste depoimento, tento mostrar alguns equívocos dessa pergunta e como pode ser possível dar algum sentido à vida fora da religião.

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Seria o racionalismo um sistema de crenças?

O conhecimento e a verdade

Na história da epistemologia, uma definição tradicional de conhecimento foi a de crença verdadeira e justificada. Verdadeira. Sempre fui muito interessado pela busca dessa verdade. Quando criança, aceitava o que minha família me ensinava por autoridade (não que eles fossem autoritários, apenas no sentido filosófico de argumentum ab auctoritate), o que incluía muitas visões religiosas. Essa, porém, logo deixou de parecer uma postura coerente para mim. Figuras de autoridade diferentes tinham visões diferentes sobre a realidade, como eu poderia saber quem estava certo? Logo me interessei sobre a ciência e seus princípios de racionalismo e imparcialidade (sejam estes plenamente alcançáveis ou não).Continue a ler »Seria o racionalismo um sistema de crenças?

Radicalismo liberal sex-positive e seus perigos para o feminismo

Já há bastante tempo me identifico com o termo “liberal”. Principalmente no que diz respeito a liberdades individuais (o sentido econômico da palavra foge do escopo deste texto). Apóio o direito dos gays, o direito ao aborto, e tendo a me opor ao conservadorismo na maioria dessas questões polêmicas. Logo que comecei a me interessar por questões feministas, passei a me identificar também com o termo e com as pessoas que declaram pertencer ao grupo. Conforme fui me aprofundando nesses temas, porém, fui notando uma série de contradições e discordâncias entre membros desses grupos. Na verdade, chego às vezes a pensar que eu talvez seja uma minoria dentro deles, principalmente no Brasil.Continue a ler »Radicalismo liberal sex-positive e seus perigos para o feminismo